Mensagem do caboclo Sete Flechas em sessão de Pretos Velhos do dia 27 de julho de 2024. Homenagem à Nanã.


Graças a Deus.

Que a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos, nesta tarde em que se reúnem em nome de Jesus. É um encontro de almas que buscam orientação; almas que buscam acalento ou que somente buscam fazer seus agradecimentos. A religião busca fazer o encontro do homem com a divindade e com aquilo que está além de sua compreensão e do seu domínio.

Estamos aproveitando o dia de Sant’Ana para homenagearmos o orixá Nanã. Que possamos, sintonizados com essa energia de renovação, nos permitirmos banhar. Uma imersão, uma higienização para que possam nossos pensamentos e possam nossos atos serem renovados, para que possamos viver em paz e não apenas, quando o corpo descansar pelo processo da morte, alguém dizer: “Que descanse em paz”, pois se desejamos que alguém descanse em paz, precisamos também desejar que as pessoas vivam em paz. Precisamos aproveitar enquanto encarnados a oportunidade de sermos úteis, de sermos prósperos, de sermos pródigos, termos uma vida saudável, plena, equilibrada, doce, para que tudo aquilo que vem depois dela, siga sendo tudo aquilo que foi semeado. Para que possamos ter um desenlace saudável, sereno, nossa vida precisa ser saudável e serena, porque sempre falamos que a vida é uma sucessão de fatos encadeados de maneira ordenada e óbvia. Então, para que tenhamos uma boa morte precisamos ter uma vida boa. 

Mas o que é uma vida boa? Não é a vida de festejos, de tudo aquilo que o ócio nos chama a realizar, mas uma vida boa é regada por todas as ações, atos e sentimentos nobres que elevam a alma do ser humano e permitem que o seu desenlace seja tranquilo, sereno; que os umbrais por onde passe sejam locais de refazimento, de desfazer-se do corpo com harmonia, sem sofrimento, sem o apego. Então precisamos ter uma vida de desapegos. Desapegos de tudo que pesa no coração; relacionamentos que não nos fazem bem, posses de coisas que já não nos pertencem, mágoas, sentimentos em desalinho, tudo isso perturba ao espírito na hora de sua passagem. 

Fechar ciclos ao longo da vida com sabedoria, com gratidão, com aprendizado, porque a cada vez que agradecemos com sinceridade a finalização de coisas ou daquilo que recebemos do outro ou de qualquer ação da divindade, o agradecimento nos aproxima da completude. O agradecimento sincero e a vida também sincera de acordo com o que pensamos, efetivamente com o que realizamos, não querendo ser além do que somos e o que fomos, sermos sinceros. Essa é a vida boa que precisamos desenvolver para que ao nos aproximarmos do fim da encarnação, tudo o que vivenciamos possa ser o combustível que nos leva a ter a certeza de termos lutado o bom combate, de termos vivido aquilo que precisamos viver; sermos os pais que conseguirmos ser, sermos os filhos que conseguirmos ser, sermos pessoas dotadas daquilo que nos fez capazes de ser quem somos.

Muitas vezes pedimos da divindade bênçãos, mas não nos colocamos na posição de receptores dessas bênçãos. Muitos querem a paz que o Cristo apregoa, mas quando o Cristo aconselha “perdoe, viva de maneira digna”, não querem mais se aproximar do trabalho com o Cristo. Pedem a paz, mas não querem trabalhar pela paz; pedem a paz a Cristo e ele diz: “auxiliem ao enfermo, seja útil a quem precisa, pratique a caridade desinteressada”, mas eles querem escolher a quem querem servir e com quem querem ser caridosos. 

Então que saibamos entender que o chamado de Jesus para sua luz não é só ele vir até nós, mas principalmente nós irmos até ele, nos desvencilhando de todo esse arcabouço de vaidade e de dúvidas, porque se o Cristo fala: “perdoe o seu irmão”, ele diz: não consigo. Mas o caminho é o perdão. Ele diz: “mas eu não posso”. Mas aonde Cristo chegou qualquer um pode chegar, então não peçam a Cristo aquilo que não querem realizar em si mesmos, para que possa vossa vida ser ao menos coerente, para que vossa mente não entre em sofrimento querendo ser quem não conseguem ser, porque a vaidade e o ego vos aprisionam na ilusão de estarem buscando ser verdadeiros, mas a verdade requer o despir-se de todas as carapaças que nos afastam de Jesus. 

Muitas vezes passamos por dificuldades e as dificuldades nos fortalecem tal qual como se fossemos sementes aprisionadas no seio da terra, em um lugar húmido e escuro, mas esta condição, a princípio, que parece ser insalubre, é essa mesma condição que faz com que a casca da semente amoleça, que a vida dentro dela desperte e rompa-se buscando a luz do sol e finquem suas raízes transformando-se em uma planta. Toda semente abriga em si o poder de uma planta, como todo ser humano abriga em si o poder de um anjo, basta que permita que a sua casca se rompa, que as raízes se firmem em solo de fé saudável, sincera de trabalho digno e seus pensamentos possam transformar-se em canções que atraiam as bênçãos de tudo aquilo que é coerente com pensamentos de quem vive em harmonia e em paz. Da mesma forma as pipocas que oferecem, são grãos de milho que o calor e o óleo quente fazem explodir nas flores de Omulu. São as condições adversas que passamos que têm condição de fazer brotar em nós o melhor que somos quando as aceitamos, quando as vivemos e quando permitimos que a modificação ocorra de dentro pra fora, porque a porta só se abre por dentro.

Homenageamos hoje Nanã, Orixá que vibra com a morte, mas a morte só virá a seu tempo; não chamem a morte antes do tempo. Que Nanã nos livre da morte prematura. Que Nanã permita que vivamos tudo que precisamos viver. Encerrar o ciclo que precisamos encerrar, agradecer por tudo que temos que agradecer. Viver o que precisamos viver. E  quando nossa missão estiver cumprida que venha Nanã, nos abrace nos acolhendo. Sabemos que vivemos tudo que tivemos que viver e nosso coração está limpo. Então encerrem seus ciclos, vivam seus dias, perdoem sempre para que possam, ao encontrar-se com Nanã, serem recebidos pelo abraço caloroso daquela que os conhece desde o inicio dos tempos.

Graças a Deus.