Mensagem do caboclo Sete Flechas no ritual de praia do dia 17 de agosto de 2024.


Graças a Deus.

Que a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos nesta manhã em que se reúnem em nome de Deus e de Jesus e de todas as entidades que cooperam com vosso engrandecimento, com todas as divindades que reverenciamos. 

Aqui estamos em nome de todas elas para este ritual anual de praia, onde trazemos a força do mar para dentro de nosso terreiro. Em outros tempos íamos nós, deslocávamos até o mar e lá fazíamos o nosso ritual, mas depois as orientações da espiritualidade e da cúpula da casa disseram: “Trazei o mar até o templo. Não vamos nos expor às intempéries, às dificuldades da materialidade, quando podemos trazer ao nosso ambiente a força do mar. Onde então fazemos os nossos rituais dentro de nossa intimidade posto que o entrar em transe, a incorporação, tudo isso são atividades demasiado intimas para que sejam expostas aos olhares profanos ou curiosos ou dos que nada entendem do que fazemos. 

Então que possamos, dentro de nosso templo com o ambiente propício, estarmos adequados com nossas vestimentas, com nossas indumentárias, com nossos gestos, com nossos cânticos aonde podemos nos sintonizar da mesma forma que quando no mar estávamos fazendo nossos rituais. E deixamos a cada um que então no silencio, quando estiverem na natureza, façam a sua reverência respeitando estas mesmas tradições. Não precisam estar mediunizados para estar em sintonia com vosso Orixá, com a própria Iemanjá ou qualquer divindade. Vosso pensamento vos direciona e vos envolve. Ao entrarem peçam a permissão dos guardiões do mar, ao entrarem na água permitam-se ser envolvidos pelo manto de Iemanjá, mas tudo em um momento muito íntimo e silencioso posto que a divindade habita na simplicidade.  Então que saibamos ter esta sintonia e evitarmos de estar nos expondo desnecessariamente aos olhares e aos comentários que em nada acrescentarão nem a vossa nem a dos outros experiência de vida ou engrandecimento. Cada um tem o seu tempo, cada um tem o seu momento e que todos tenham oportunidades de seguirem militando.

Em suas parábolas disse Jesus em um momento a seus discípulos, que ele era a videira e os discípulos eram as varas. Importante entendermos essa figura alegórica tão importante, pra dizer que a presença de Jesus vivifica toda a planta.  Como se cada um fosse uma vara, uma folha que sai de um tronco único, mas é a presença de Jesus que os une e que lhes dá força, colorido e beleza. Onde cada um ao seu modo, é em sintonia com Jesus, porque a divindade não se faz presente somente em nosso templo, existem também outros locais muitas vezes não religiosos onde a presença de Jesus se faz presente. Então cada um na sua seara, cada um no seu canto, no seu afazer, mas sempre sintonizado com a seiva que a tudo une e a tudo dá motivo e sentido que é a presença de Jesus, que é o amor, que é o respeito, que é a fraternidade, que é a alegria no servir.

Onde isso existir estará presente Jesus e todos aqueles que com ele sintonizam. Então quando uma vara se permite ser envolvida pelo egoísmo, pela mágoa excessiva, por tudo aquilo que tolhe a presença de Jesus, aquela vara adoecerá e cairá do seu galho. Outra será nascida daquele tronco, mas entendam muitas vezes é necessário que a vida cumpra o seu ciclo. Então que saibamos entender que a seiva sempre estará lá, somos nós as varas e que cada um na sua capacidade possa ir servindo a espiritualidade dentro de sua capacidade. Não invejem o trabalho do outro, a incorporação do outro, o Orixá do outro, o que o outro faz, a vida do outro. É importante que em sua própria vida, em sua própria essência corra a essência de Jesus. Estará cumprindo o seu papel, porque cada um tem o seu próprio destino e missão a ser cumprida. Jesus está presente em todos, todos representam essa força e cada um dentro da sua missão de crescimento. E entendam, muitas vezes a planta adoece, muitas vezes a raiz e a planta se desconectam do solo devido a pragas, a excessos ou de humidade ou de secura representando muitas vezes a incapacidade da pessoa de manter-se em sintonia com a seiva que a alimenta.

Então tenham sempre em vossa diretriz, a presença, a exemplificação, e tudo aquilo que já foi falado, todas as receitas de uma vida pautada no equilíbrio e na verdade, para que sigam sendo úteis, uma vida perene e plena de amor e de serviço, porque é isso que se espera de todos aqueles que militam, que colocam-se debaixo da bandeira da Umbanda é o servir. Então não esperem que a Umbanda os sirva, sirvam primeiro a Umbanda e a sua vida seguirá sendo em harmonia.

Não entrem para os templos na expectativa de melhoras materiais ou mesmo de saúde ou de relacionamentos, isso são consequências da vida religiosa bem vivida. Porque a pessoa que assume seu compromisso, que vive com equilíbrio, com disciplina, entendendo que cada coisa tem seu tempo, que somos nós que temos as diretrizes de nossa caminhada, tudo isso começa a refletir-se em todas as outras áreas da vida e a consequência é o fruto positivo do que se colhe, o agradecimento por aquilo que se plantou, por aquilo que se faz, e não a religiosidade, a religião ou a mediunidade em si, mas é a modificação da criatura com que faz com que ela transborde a beleza que ela busca.

Então que saibam manter este compromisso convosco, porque vossos guias convosco estão, mas seguem a trajetória deles. Se preocupam em ter ligações mentais, espirituais com cada um, mas no momento em que seu discípulo decide optar por caminhos diversos ele diz: “Deus siga lhe abençoando! Eu seguirei o meu caminho”. Ninguém é escravo de ninguém, ninguém é posse de ninguém. Não é meu caboclo, não é meu Exu, não é minha Pomba Gira, não é meu Orixá. Somos todos parceiros de uma mesma caminhada e na medida em que vamos nos entrosando, nos conhecendo, nos harmonizando, o pensamento é cada vez mais belo e uníssono, mas no momento em que o livre arbítrio diz “não quero mais isto”, o amor que se tem por cada um de seus pupilos diz: “vá! Nos encontraremos depois com o seu amadurecimento melhor utilizado”.

Então que tenhamos essa certeza, somos todos capazes de crescer, sendo médiuns ou não, sendo religiosos ou não. O importante é que a criatura se modifique internamente e perceba que a sintonia com a divindade passa pelo caminho da humildade, do servir a todo momento desinteressadamente fazendo tudo pelo outro, mas vivendo a sua vida ensinando o outro a fazer a parte dele.

Graças a Deus.