Era mais que o medo… era o Medo…
Era a noite, na noite do medo…
Era o vento, era a chuva, era o céu, era o ar…
Era a vingança de Iansan … Epahei!
Assustava o escuro da noite e assustava a luz azulada dos raios…
O silêncio se ouvia na noite.
Nos pés medrosos que corriam descalços sobre as poças de água na areia batida.
Até o silêncio fugia do rugido do trovão.
Era o medo. Era mais do que o medo de Ewá correndo com os pés descalços sobre as poças de areia batida.
O mar lambia seus pés querendo tragá-la por sua boca faminta de coisas vivas.
A noite a engolia em sua goela escura, e a vomitava no clarão dos raios…
A luz azulada dos raios brilhando no corpo de Ewá.
Era mais do que o medo… era o Medo…
Era Iansan que vingava seu amor traído.
Era a senhora dos ventos que zuniam nas cabeleiras histéricas das palmeiras.
Era o céu que arregalava os olhos de fogo, procurando a fugitiva que corria sem ter onde se esconder.
As risadas do trovão divertiam-se com o medo de Ewá
Ai Ewá, por que cedeste aos apelos de Xangô?
Ai Ewá, não sabias que a ira de Iansan é maior do que o desejo de Xangô?
Não sabias que a vingança de Iansan é a morte?
Era o canto da morte que o vento cantava entre as cabeleiras histéricas das palmeiras.
Corre Ewá… corre Ewá…
Fuja das praias que não podem te abrigar.
Fuja para as matas que talvez possam te abrigar…
Era a morte na espada de Iansan, brilhando na luz dos raios.
Era o raio, era a vingança, era a morte.
Mas se na mata consegue se esconder, pede ao rei de Ketu sua proteção.
Ri ro Ewá! Provaste que nem mesmo Iansan conseguiu sua vingança de morte.
Ri da risada de Iansan na garganta do céu.
No rugido do trovão, o lamento de Iansan…
A vingança não consumada…
Ri Ro Ewá!
Ewá é livre. A liberdade é sua casa.
A casa de Ewá não tem paredes, não tem teto: É o mundo.
Ewá não tem dono, traça seu próprio destino, escreve a sua história.
Rósea, brilha no brilho das estrelas.
Reluzente, acendo o céu quando o sol se põe.
Vermelha, púrpura, magenta. Todas as cores do fim de tarde são de Ewá.
O céu da tarde é o seu rosto.
A luz das estrelas, os seus olhos.
O barulho das águas a sua voz.
O guizo das serpentes o seu brado.
Ewá é livre!
Cobra não reconhece dono!
A bela rainha Ewá costumava banhar-se em um rio nas proximidades do palácio, enquanto suas mucamas lavavam as roupas. Certo dia, um jovem rapaz todo vestido de branco, passou assustado diante de Ewá e lhe pediu ajuda:
_ Rainha Ewá, estou fugindo de iku, a morte, pois não posso morrer agora. Sou muito jovem, tenho algo importante a criar. Por favor, Ewá esconda-me.
_ Eu gostei de você – Disse Ewá – Vou ajudá-lo.
Assim, Ewá escondeu o rapaz entre os lençóis que estavam sendo lavados. Logo apareceu iku, que perguntou a Ewá sobre ele. Ewá respondeu:
_ Iku, sabe quem sou eu? Respeite o banho da esposa do rei Obaluiê!
_ Rainha Ewá, sei quem é você mas meu poder não vê limites. Se é chagada a hora, levo comigo reis e rainhas …
_ Iku, conheço o seu poder. Como posso ajudar?
_ Diga para onde foi o rapaz de branco.
Ewá ensinou um caminho oposto e salvou aquele jovem da morte sem saber que ele era Orunmilá, o deus que criaria o oráculo de Ifá e seria a maior autoridade nos profundos mistérios do cosmo e dos destinos dos seres. Como recompensa, Orunmilá deu à Ewá o poder da vidência.
O oriqui acima mostra como Ewá despertou a ira de Iansan ao entregar seu corpo a Xangô. Em sua fuga, Ewá refugiou-se nas profundezas inalcançáveis da matas recebendo assim a regência sobre estes locais. Mais uma vez conseguiu afastar a morte e sob a proteção de Oxossi tornou-se valente guerreira e habilidosa caçadora.
Ewá está nos lugares que o homem não alcança, onde só a natureza e os deuses se manifestam. Ewá é o orixá da beleza e dos mistérios, senhora do céu estrelado, rainha do cosmo. Hábil caçadora, está relacionada à mata, à água e ao ar, é a deusa dos rios, lagos e lagoas, do céu cor de rosa, das florestas inexploradas.
Ewá é representada pelos raios brancos do sol, pela faixa branca do arco-íris. Sendo uma caçadora, tem como símbolos um ofá (arco e flecha) dourado, uma lança ou arpão. Carrega também uma cabaça de cabo alongado enfeitada com palha da costa, uma espada e eventualmente carrega uma serpente de metal, um atributo de Oxumarê, de quem é considerada por alguns filha, outros irmã ou esposa. As palmeiras com folhas em leque também simbolizam Ewá: exótica, bela e múltipla. Os maiores fundamentos deste orixá encontram-se nas plantas típicas de lagoas.
Pouco se sabe a seu respeito, fazendo com que Ewá seja uma deusa de muitos mistérios que precisa manter-se oculta, na imensidão das florestas onde só se ouve o canto dos pássaros, o ronco dos animais e os guizos das cobras. Ewá mora na terra do perigo, que aprendeu a dominar com o rei de Ketu (Oxossi). Ela nos visita através do brilho das constelações. O brilho de Ewá é intenso. Da floresta ela reluz e o céu de dezembro reflete o rosa maravilhoso de sua aura.
As virgens, e tudo o que é intocado, contam com a proteção de Ewá: As matas virgens, as moças virgens, rios e lagos onde não se pode navegar ou nadar. Alguns religiosos acreditam que a própria Ewá seja uma deusa virgem (a virgem da mata virgem) ou que só se manifesta através de mulheres virgens. Entretanto, algumas de suas lendas contrariam a afirmativa de ser Ewá uma deusa irgem. Uma destas lendas relata ter sido Ewá esposa de Obaluaê e esclarece também como Ewá recebeu o domínio sobre a vidência Ewá é a divindade do canto, das coisas alegres e vivas. Dona de raro encanto e beleza, é considerada como a rainha das mutações, das transformações orgânicas e inorgânicas. É o orixá que transforma a água de seu estado líquido para o gasoso, gerando nuvens e chuvas. Senhora do belo, Ewá é aquela que dá cores aos seres; tornando-os bonitos, vivos, estimulando a sensibilidade que existe, não só na natureza, como também no homem.
Ewá é a sensibilidade, a fragilidade das coisas. É a deusa da beleza; é o sentimento de prazer pelo que é belo; é o respeito pela maravilha que o mundo nos apresenta.
É também a divindade do canto; da música; dos sons da natureza, que enchem nossos ouvidos de alegria e contentamento. Está presente no canto dos pássaros; no correr dos rios; no barulho das folhas sopradas pelo vento, na queda da chuva, no assobio dos ventos, na música interpretada por uma criança, no choro do bebê, no canto mais que sagrado da mãe natureza.
Ewá é a própria beleza, é o som que encanta. É o canto da alegria. É a transformação do mal para o bem.
É a vida…
Ri Ró Ewá!
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