Mensagem do caboclo Sete Flechas em sessão de caboclos do dia 21 de outubro de 2023.


Graças a Deus.

Que a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo esteja com todos esta tarde em que se reúnem em nome de Deus. Em que se reúnem em nome de Jesus, um dos vários profetas que passaram em vosso mundo, e que vossa religiosidade acolheu com vosso ícone, como ponto máximo, como farol apontando os caminhos a serem seguidos.

Então uma vez que nos dizemos cristãos, que labutamos embaixo de sua bandeira e sob seus exemplos, busquemos ser aquilo que a bandeira do Cristo representa. Seja a fraternidade, seja a igualdade, seja a liberdade, seja a caridade instrumentos para que consigamos trilhar no mundo abrindo os caminhos com as ferramentas do Cristo. E um dos seus maiores instrumentos foi o próprio exemplo, que possamos ser tal qual o próprio Jesus; exemplificando a todo momento.

É muito belo nos arvorarmos de palavras e termos discursos inflamados, mas é muito importante que saibamos também transformar tudo isso no exemplo, porque há momentos em que apenas o silêncio e a ação falam; e esses são os momentos em que plasmamos a nossa capacidade de sermos quem somos. Porque independente do que falam e do que apontam, o nosso conhecimento de nós, nos faz tão seguros que seguimos adiante sem titubear para que cumpramos a nossa missão.

Fazemos muito isso quando conseguimos nos desvencilhar do sofrimento, quando conseguimos entender que cada um está onde tem que estar. E se cada um está onde tem que estar, não há porque duvidarmos da sabedoria de Deus quando nos coloca nessa posição ou naquela outra ou naquele momento; buscamos ser utilidade a todo momento mesmo que a utilidade seja o silêncio e a oração, porque há coisas que independem da nossa ação; tão somente da nossa vivência para que consigamos absorver e traduzir isto a posteriori com conhecimento e com paz, porque não podemos impor a todo momento a nossa vontade, a nossa presença ao mundo. O que precisamos fazer é dialogar com o mundo, conseguir decifrar cada mensagem que o mundo traz e a partir daí vamos colocando, sempre embasados no que vivenciamos e no que temos de bom. Porque é muito fácil quando lembramos de nossos erros, é muito mais comum quando nos agarramos à dor que já conhecemos do que buscarmos um conhecimento novo e uma dor que desconhecemos, mas enquanto nos agarramos à dor estamos somente repetindo posturas estagnadas e plasmadas em nossa própria identidade.

E como ninguém nasceu para sofrer e se cada um está onde tem que estar, a dor que agora sinto só pode ser um aprendizado que preciso ter. Precisamos ver além da dor, porque filhos fixam tanto na dor que até a própria adoração ao Cristo o fazem em seu momento de dor. O fazem em sofrimento, o fazem em agonia. Raros são aqueles que imaginam Jesus abençoando as crianças ou curando os enfermos ou os orientando. Ao falarmos Jesus vossa mente vos remete ao seu martírio, porque filhos foram ensinados que a dor liberta, que a dor eleva o ser humano. A dor também faz isso, como a alegria do trabalho bem feito o faz. Não há melhor remédio para a consciência adoecida do que o trabalho, do que ser útil.

Então que possamos dar novo significado à figura de Jesus. Lembremo-nos que ele ultrapassou o seu momento de dor; lembremo-nos que ele no horto das oliveiras perguntou ao pai se o cálice poderia ser evitado. Uma vez não sendo possível; aceitou, assumiu, passou e seguiu adiante. Seguiu os mitos que contam de sua capacidade de vencer a morte e depois retornar em meio a seus discípulos e ascender, mas filhos guardam o momento do sofrimento como se agarram no sofrimento próprio alimentando a dor e a agonia, esquecendo-se que depois da dor só pode vir o alivio e a sensação e certeza de que cumprimos a nossa missão e o nosso papel.

Então que possamos ver além de tudo aquilo que os olhos físicos veem ou que os olhos do egoísmo percebem. Que possamos entender que o que está por traz de tudo que acontece sempre será algo de melhor, por que se ninguém nasceu pra sofrer, mas se o sofrimento existe, qual a utilidade dele? Não é o de ser uma bengala que utilizamos para nos locomover no mundo, mas um degrau que usamos para acender nossa consciência, nosso aprendizado de alguma libertação. Agradeçamos mais pelo sofrimento, mas efetivamente deixemos que se vá, porque depois dele existem luzes, existe conhecimento, existem trabalhos a serem realizados.

Que mudemos a nossa identidade para o mundo. Passemos a ser realizadores e não só pedintes. Que a imagem do crucificado possa ser a imagem daquele que vence todas as dificuldades, daquele que supera, daquele que perdoa e não daquele que se agarra à dor e ao sofrimento. Ressignifiquemos nossa religiosidade, ressignifiquemos nossa forma de trabalhar, demos novo significado à existência entre o berço e o tumulo.  Não pode só existir guerras e tristezas, mas também ali precisa existir momentos de alegria que fixe em nós a utilidade da vida.

Sejamos corajosos, aceitemos estas dificuldades, mas não a chamemos mais de dificuldades, mudemos o seu nome para oportunidades e faremos com que a vida se torne mais leve e nosso aprendizado se sedimentará com mais eficiência.

Graças a Deus.