O ser humano vive de extremos, porque ou nunca pode nada ou sempre pode tudo. E é esta oscilação de extremos que traz o cansaço e que traz as canseiras da vida, quando poderia optar pelo caminho do meio que é o mais seguro. Mas sabemos que esta lei do pêndulo segue atuando no universo incessantemente; toda vez que estou muito do lado de cá, feliz demais, alegre demais, fazendo tudo demais; o cansaço me abraça e eu vou ao outro extremo onde me fecho demais, não faço nada, mas também me canso e volto para a compensação necessária do tudo demais. Mas o tempo é sábio e a cada vez que eu vou de um extremo ao outro em algum momento minha consciência perceberá que se me posiciono aqui (no meio), minha voz chega a todos, não preciso me esforçar tanto para que quem está lá me ouça e da mesma forma o oposto.
Então quando o ser humano entender que o caminho do meio é mais sereno, mais seguro e menos cansativo, começará a perceber que ele sim, ele pode de tudo um pouco. na medida em que seu corpo permite, sua saúde permite, seu tempo permite, ele administra tudo isso. Somos senhores de nosso próprio destino, de nossa própria administração. Não somos reféns de deuses tiranos nem precisamos estar reclusos em correntes religiosas disciplinares excessivas, porque se eu preciso de um Deus que me diga o que fazer ou não para eu ser uma pessoa boa, eu não sou uma pessoa boa ainda, porque a bondade tem que vir de dentro. Eu preciso saber que é bom ser bom, que é bom ser justo, que é bom ser do bem, quando eu percebo as ações e as reações que elas provocam eu mesmo me alinho e deixo de falar “sou assim porque sou filho da Iansã”, “sou assim porque sou filho de Ogum”, “eu falo mesmo” e assim por diante, eu começo a perceber que deuses e homens convivem em harmonia na medida em que os deuses se inclinam sobre o homem e os influenciam, mas permitem que o homem viva suas experiencias e faça delas o melhor que pode e aprende e evolui.
Todas as palavras já foram ditas por todos os profetas em todos os tempos, estão aí para serem ouvidas e não para serem distorcidas de acordo com a minha realidade. Justiça, caridade, fraternidade, humanidade, não podem ser palavras que se esvaziam assim como amor, como amizade. Têm que ser preenchidas com ações para que valham a pena serem proferidas por bocas que realmente estão em comunhão com mãos que agem de acordo com o que elas falam.
Que possamos não mais nos esconder na vaidade inversa do “ainda não sei”, “eu não estou preparado pra isto”. Não temos mais tempo para este tipo de infantilidade. Possamos assumir nossas responsabilidades, nossas ações, e aí sim, teremos o sorriso mais fácil no rosto.
Que caiam as máscaras, todas elas! Que possamos ver quem realmente está por traz do rosto que nos sorri ou da lagrima que cai. De onde vem o nosso humor? Nosso mau humor? De onde vem nossa tristeza? Não é do outro, eles estão em nós, eles estão dentro de nós e desaguam exatamente no momento em que as falhas provocadas pelas emoções permitem que elas saiam. Se toda porta se abre por dentro, arrumemos o interior para que ao entrarem possamos mostrar uma casa mental bem arrumada e digna de ser vivida por alguém que ali habita com equilíbrio e com paz.
Ser médium não é uma tarefa fácil. A vaidade nos assola a todo o momento. É silenciosa como a ferrugem, como os cupins, como todas as pragas que só vemos quando já fizeram todo estrago. E o vigiai sempre não quer dizer não façam nada. O vigiai sempre diz vivam o que tem que ser vivido porque já sabem o justo e o injusto, o certo e o errado, a dosagem é cada um que dá. Vivemos a nossa vida e não a vida do outro. Equilíbrio, essa é a grande chave para vivermos bem conosco.
Que assim seja.