Xangô é o senhor do fogo, dos coriscos, rei das pedreiras, orixá da justiça, aquele que gera o poder da política. Saudamos Xangô no ribombar dos trovões, pois ali está a sua voz, sentimos sua presença nos raios e nos grandes incêndios, situações que, por sinal, são também regidas por Iansan. Xangô é a síntese do poder, o poder é o seu prazer, Xangô nasce do poder, rei absoluto, forte, imbatível, é rei entre os reis, manda nos poderosos, manda em seu reino e nos reinos vizinhos. É o orixá que reinou em Oió, antiga capital política da Nigéria. Nas terras de Oió, doze ministros eram responsáveis pela administração da cidade, no entanto, a palavra final cabia aquele que entre os reis era o senhor: Xangô, o grande soberano de Oió, o rei por excelência.
Bravo e conquistador, Xangô é conhecido como o orixá mais vaidoso entre os orixás masculinos. Ele gosta do luxo dos palácios, do dourado das jóias, do vermelho dos veludos. É soberbo, ambicioso, faz o que quer, é ousado, é quente. Rei que coroou a si próprio, amado, respeitado e temido por todos. Xangô ensinou a seus súditos, que só existem dois dias em que nada pode ser feito: o ontem e o amanhã. Por isso reinou sem medo, foi generoso e cruel, amável e severo. Foi, sobretudo, justo. É monarca por natureza, sabe exercer o poder, sabe comandar, sabe mandar. Não foi por acaso que se associou ao fogo, o grande símbolo do seu poder. A autoridade de Xangô fica mais evidente quando se observa em alguns de seus orikís (versos sagrados), nos quais chega a ser comparado com grandes animais, poderosos por seu tamanho ou por suas características de predadores, como o elefante ou o leopardo. Xangô gosta de desafios, como os que aparecem nas saudações que lhe fazem seus devotos, porem estes desafios sempre são feitos de modo a ressaltar o poder de Xangô.
Cultuar Xangô é nossa obrigação, conseguir atraí-lo para junto de nós e usufruir de seu poder é uma dádiva. Xangô gosta de tudo o que é quente, pois o calor lembra a vida, que para ele é a maior de todas as riquezas. Nada em seu culto pode ser mórbido, sua comida não pode ser servida fria, o dia de seu culto não deve ser frio, tudo precisa estar vivo, quente e intenso para saudar a chegada de Xangô. Amigo das delícias da vida, Xangô deve ser servido como se muitos fossem comer com ele. Um prato ofertado a Xangô deve ter apresentação impecável, ter tempero marcante, ser farto. Afinal, um rei com doze ministros, três rainhas e uma multidão para governar não pode ser recebido com mesquinharia. Toda comida de Xangô deve ser consumida ainda quente, Xangô não come nada frio, ele rejeita o que não está quente, rejeita o que não está vivo.
Xangô é o orixá que incorpora com perfeição os valores da boa vida. Seu poder também se expressa em suas evocações, suas cantigas e orikís (versos sagrados), que falam de suas preferências gastronômicas, do medo que ele desperta, de sua imortalidade.
A imagem do poder está sempre associada a Xangô. O poder real lhe é devido por ter sido o quarto rei de Oió. Segundo dados históricos, Xangô destronou o próprio irmão com um golpe militar. A personalidade paciente e tolerante do irmão o irritava, e certamente também ao povo de Oió, que o apoiou para que ele se tornasse o seu grande rei, até hoje lembrado. Xangô é o rei que não aceita contestação, todos sabem seus méritos e reconhecem que seu poder, antes de ser conquistado pela opressão e pela força, é merecido pois Xangô soube inspirar a credibilidade de seus súditos, tomou decisões acertadas e sábias e sobretudo demonstrou a sua capacidade para o comando, persuadindo a todos não só por seu poder repressivo como por seu senso de justiça muito apurado e por vezes catastrófico.
Não erram os que dizem que Xangô exerceu o poder de forma ditatorial, que fez o uso da força e da repressão para manter a autoridade. Entretanto, sua retidão e honestidade superaram seu caráter arbitrário, suas medidas embora impostas, foram sempre justas e por isto ele foi, acima de tudo, um rei amado pois foi repressor por estilo e não por maldade. O fato é que não se pode falar de Xangô sem falar de poder. Xangô é inimigo da mentira, por isso tornou-se orixá da justiça. Ele expressa a autoridade dos grandes governantes, mas também detém o poder mágico pois domina o mais perigoso de todos os elementos da natureza: o fogo. Xangô racha o céu no meio da tempestade e faz o fogo correr sobre a água. O poder mágico de Xangô reside no raio, no fogo que corta o céu, que destrói mas que transforma, que protege, que ilumina o caminho. O fogo é a arma com a qual Xangô castiga aqueles que não honram seu nome. Por meio do raio ele atinge a casa ou o próprio malfeitor. Xangô é quem leva o fogo para dentro de casa, ele transforma izô, o fogo que destrói, em iná, o fogo que ilumina. Ao engolir e cuspir fogo, ele apresenta a prova de que domina a natureza: pega o fogo em estado selvagem e o domestica. Assim, Xangô pega algo que poderia destruir qualquer ser humano e converte em seu benefício, propiciando o progresso e o bem-estar de todos. Vale lembrar que foi com o domínio sobre o fogo é que o homem pôde de fato organizar-se em sociedade.
Tudo em Xangô lembra o fogo, o próprio Xangô era fogoso, “quando falava saíam chamas de sua boca e fumo de suas narinas”. Esta forma de descrever Xangô é figurativa e ressalta seus atributos de amante insaciável. Xangô foi um homem bonito e extremamente vaidoso. Um de seus orikís fala de sua vaidade, de sua beleza e de sua elegância.
Xangô foi um amante irresistível e disputado por três mulheres: Iansan, sua eterna companheira com quem divide o domínio sobre o fogo. Ao saudar Xangô, os fiéis não esquecem de Oyá.
Oxum, a mais amada. Apenas por Oxum, Xangô perdeu a cabeça e só por ela chorou.
Obá, que amou e não foi amada. Obá que abdicou de sua vida para viver por Xangô, foi capaz de mutilar seu corpo por amor ao seu rei.
É a Xangô que se deve recorrer para solucionar pendengas judiciais. Ele protege juízes, promotores, advogados e todos os que se ocupam em fazer justiça. É padroeiro dos governantes, políticos de pulso forte, amados e odiados na memória do povo. Xangô luta para derrubar os corrompidos, os mentirosos, os que agem de má-fé, pois Xangô é inimigo da mentira e sabe castigar os que traem a sua confiança.
As grandes formações rochosas estão relacionadas a Xangô. A pedra remete ao seu caráter firme, decidido, inquebrantável. Simboliza a dureza dos grandes reis, senhores absolutos, mas como Xangô, incorruptíveis.
Em nosso dia a dia encontramos Xangô nos fóruns, delegacias, ministérios políticos, nas lideranças de sindicatos, associações, movimentos políticos, nos partidos políticos, nas campanhas políticas, enfim, em tudo que gera habilidade de trato das relações humanas ou nos governos, de um modo geral. Ele está presente nos trabalhos de jornalistas, escritores, advogados, juizes, promotores, delegados, investigadores, deputados, senadores, vereadores, sindicalistas, líderes comunitários, administradores, etc. Xangô é a ideologia, a decisão, a vontade, a iniciativa. Xangô é a organização, o trabalho, a discussão pela melhora, o progresso cultural e social, a voz do povo, o levante, a vontade de vencer. Rege a capacidade de organizar e pôr em prática os projetos de diferentes áreas; é a reunião de pessoas para discutirem pontos e estratégias de trabalho. Está presente em muitos momentos importantes de nossas vidas, como, por exemplo: na assinatura de contratos, nas leis e decretos, na confecção de códigos, livros, almanaques, dicionários, nas decisões judiciais, na voz de prisão, na autoridade do professor, do policial, do juiz, do pai ou mãe, tio, avô, irmão mais velho ou responsável.
Xangô, não me estranhe
O feroz furioso com chuva
Olho de orobô, bochecha de obi
Dono dos quiabos, Senhor do jabuti
Xangô de Oió
Acorda e come carneiro
Acorda e come um galo inteiro
Te dou jabuti
Te dou quiabo
Xangô da veste vermelha, te adorarei até o fim da minha vida
Xangô, se não me abençoares a vergonha recairá sobre ti
Xangô, se eu não te servir, a vergonha recairá sobre mim
Xangô, se não me abençoares, irei talhar uma imagem de Oxum
Xangô, se não me abençoares virarei cristão
Xangô, elefante de olhos tão grandes quanto potes de boca larga, se me abençoares não me tornarei muçulmano
E se me abençoares, elefante de olhos tão grandes quanto potes de boca larga, amigo dos tocadores de batá, digo que não virarei cristão
Aquele com quem vale a pena gozar o mundo, se me abençoares, não irei talhar uma imagem de Oxum
Abre sobre mim os olhos de benção, senhor de Kossô!
O rei não aceita desculpas
Abalador, bebe azeite como água
Vai ao orun quando quer
Leopardo de olhar fixo que assusta o caçador
Aquele que não dá passagem a Exu
Rei leopardo, quando fala, os conselheiros calam
Não me gele com teu olhar de fogo
Amigo do raio
Tranqüilo ou intranqüilo
Orixá veloz como o vento
Orixá forte e feroz
Árvore que não morre.
Leopardo de Oió que come duzentos orobôs por dia
Que descola os dedos da mulher que não lhe deu amalá
E que amalá mão mais fará
Todos, com pratos e prantos, pedem perdão a Xangô pela mulher do amalá
Kabiessi, não provoquem Xangô
O rei não aceita desculpas
Entre os clientes de Ogum, o ferreiro, havia Xangô
Que gostava de ser elegante
A ponto de trançar seus cabelos como os de uma mulher.
Havia feito furos nos lóbulos de suas orelhas
Onde usava sempre argolas
Ele usava colares de contas, ele usava braceletes
Que elegância!!
Este homem era igualmente poderoso por seus talismãs,
Era guerreiro por profissão
Não fazia prisioneiros do decurso de suas batalhas (matava todos os inimigos)
por essa razão Xangô é saudado
Rei de Kossô, que age com independência!
Xangô, amor de Oyá
Epa, Oyá encantada, ventania que corta as copas
Oyá da roupa de fogo.
Xangô, amor de Oxum
Água de Ijexá. Cava areia, encova dinheiro
Enfeita filho com bronze
Obá saudarei também
Obá do ciúme
Amor de Xangô na carne gravado
Murro no muro da mentira
Mata varando o olho do mentiroso
Mata selando porta e porto
Mata quem não sabe pensar
Abalador, Alafim de Oió, fera faiscante
Rompe muros, rasga paredes
Racha e crava pedras de raio
Tece em rubro toda a sua roupa, bela de búzios
Pai do povo de Oió
Abalador, dono de Kossô, dono de minha cabeça
Bom comedor de amalá, do amalá de qualquer quiabo
Orobô é o obi de babá
O orobô de babá cá está
Xangô racha o pilão
Rei, meu senhor que adorarei
Leopardo feroz que adorarei
Dono de Kossô não desapareça
Babá coroado batendo batá
Bate batá para sacrificar
Bate batá para a chuva chegar
Bate batá para ir guerrear
Meu pai do segredo da cabaça, que bendigo na boca do dia
Alegria da minha manhã
Mistério que meu Xangô me mostrar, nem aos meus mostrarei
Xangô de toda fala, língua antiga ou inventada
Rei de coroa gloriosa.
O poder de meu pai apavora
Teus raios riscam receio
Chefe, adivinho, bruxo, bruxa, homem, mulher, jovem, adulto
Escravo, criança, e os feiticeiros, todos receiam o abalador
Meu senhor, aquele que te adora trança cabelo e veste vermelho
Devorador de osso e de espinha
Matador sem defesa, inimigo da mentira
Olho adaga de fogo, bons olhos me vejam
Rei de tremenda majestade
Quem o rejeita foge
Espanta o canto da intriga
Esfrega na terra a boca inimiga
Abalador, ao som do tambor
Da cidade rei e senhor
Viva o humor de Xangô, célebre na cidade
Marido de dezesseis, tornou-se de todas elas
Eu saudarei as dezesseis mulheres de Xangô
A fera de olhos bonitos, belos pêlos no corpo e na cabeça
Filho do rei que martela doenças, filho do rei que martela a morte
Corpo que nunca perde força
Não lute comigo
Xangô não me estranhe
O feroz furioso com chuva
Dono do dinheiro, abalador
Que cospe fogo
Tem piedade de mim
Meu dono dá-me ouvidos!
Kao kabiessi!
Outros Orixás
Ola . Sou americano mas vivo no Brasil faz um tempo e conheci do seu
site por causa do meu filho que vive em Portugal .
gostei muito seus posts e na medida do possível estarei te acompanhando
Grato pelo contato