Exu é a força da criação, é o nascimento, o equilíbrio negativo do Universo. A palavra Exu significa “esfera”, simbolizando aquilo que é infinito, que não tem começo nem fim. Exu é a primeira célula da geração da vida, é aquele que gera o infinito infinitas vezes. Deus da terra e do fogo, é a força que fomenta o crescimento, senhor do princípio e da transformação. Gerador do que existe, do que existiu e do que ainda vai existir. É Exu que nos dá capacidade de agir, andar, refletir, idealizar. Sem ele a vida sadia seria impossível, o homem seria excepcional, retardado, incapaz de coordenar e determinar suas próprias atitudes e caminhos de sua vida.

Exu é o mais humano dos orixás, a figura mais controversa do panteão africano. Muitas confusões e equívocos são a ele relacionados, o pior deles é aquele que o associa erroneamente à figura do diabo cristão descrevendo-o como um deus excessivamente libidinoso, voltado para a maldade, para a perversidade e que se ocupa em semear a discórdia entre os seres humanos. Na verdade, Exu contem em si todas as contradições e conflitos inerentes ao ser humano.

Assim como o homem, ele não é totalmente bom nem totalmente mau. Exu é o ego de cada ser, o grande companheiro do homem no seu dia a dia. A cultura africana desconhece a oposição entre bem e mal. Ela entretanto reconhece que o bem de um pode ser o mal de outro, portanto cada um deve dar o melhor de si para obter tudo de bom em sua vida.

Cultuando, agradando e agradecendo a Exu, para que ele seja no seu cotidiano a manifestação do amor, da sorte, da riqueza e da prosperidade.
Exu está presente no calor, na quentura, nos lugares pouco arejados, nos lugares onde existem multidões, nos ambientes fechados e cheios. Exu está na alteração do ânimo, na discussão, na divergência, no nervosismo.
Está no medo, na falta de controle do ser humano. Também está presente no riso farto, na gargalhada, na alegria incontida. Diz-se que Exu é a contradição, pois Exu é aquele que ludibria, engana, que confunde mas que também ajuda, dá caminhos, soluciona. É a confusão dos conceitos básicos, é a aquele que traz ao mesmo tempo a dor e a felicidade. Exu é a velocidade, a rapidez do deslocamento. É a bagunça generalizada e o silêncio completo. Exu é o namoro, é o desejo, é o sentimento de paixão desenfreada e é também o desprezo. Para se ter uma noção do comportamento
e da regência paradoxal de Exu, vejamos alguns de seus orikis (versos sagrados), que também revelam que não há impossibilidade em seu caminho nem no caminho dos que contam com sua amizade.

Impossível é palavra que não existe para Exu. Para ele nada, nunca, está perdido. Ele é o senhor de todas as possibilidades, mesmo os casos que parecem perdidos quando entregues aos seus cuidados, encontram solução rápida e satisfatória. Exu é aquele que busca o que está perdido e que entende as frustrações e a ambição dos humanos.

Exu é o dono do mercado, das feiras livres e das encruzilhadas, seus lugares preferidos. Na verdade exu gosta de movimento, de lugares com muita gente, onde confusões não demoram a aparecer. Onde tiver um bafafá, tem Exu. Assim, pode-se ter uma idéia de quem Exu é, e como ele rege as coisas. Exu está presente em tudo. Está na aceitação ou recusa de qualquer coisa, Está nas conversas de esquina, nos bares, restaurantes e praças. Exu está presente no consumo de substâncias tóxicas, no álcool, na droga, no fumo. O membro ereto do macho tem a presença de Exu, a
penetração na fêmea, tem a regência de Exu; a ejaculação é coordenada por Exu; o percurso do espermatozóide dentro da fêmea é regido por Exu. Está presente na fecundação do óvulo e na formação da primeira célula da vida.

Na multiplicação da célula a regência passa para Oxum, que vai reger o feto até o nascimento.
A gula é um atributo de Exu. Ele é o orixá que mantém a relação mais estreita com a comida e, conseqüentemente, com a cozinha que é também um dos seus locais preferidos. Exu, que está presente nas refeições pois ele é quem rege o ato de mastigar e engolir, é saudado como Elégbára, senhor da transformação pois o fogo, elemento que Exu domina, é responsável pela transformação dos alimentos. Cozinhar os alimentos é prática que se insere no universo das regras, dos costumes, das tradições. É uma atividade tipicamente humana. Uma vez que tudo o que diz respeito ao homem está diretamente relacionado a Exu, cozinhar os alimentos é mais uma prova da interferência do senhor de todos os acasos na evolução humana.
Em qualquer ocasião, Exu é o primeiro a ser servido. Exu é o senhor dos alimentos e o portador das oferendas.

Foi pela vontade do próprio Olodumare que se tornou o poderoso condutor dos orixás, intermediário entre os deuses e os homens Exu é o orixá que entende como ninguém o princípio da reciprocidade pois quando agradado corretamente, sabe retribuir tornando-se amigo e fiel escudeiro. No entanto quando esquecido é o pior dos inimigos e volta-se contra o negligente, tirando-lhe a sorte, fechando-lhe os caminhos e trazendo dissabores.

Sem Exu o mundo não faria sentido, pois só através de Exu se chega aos outros orixás e ao Deus supremo Olodumare.
Exu fala todas as línguas e permite a comunicação entre o orum (céu) e o aiê (terra), entre os orixás e os homens.
Exu foi a primeira forma dotada de existência individual. Não se sabe ao certo sua região de origem na África, pois em todos os reinos se presta culto a Exu. Sabe-se, no entanto que chegou a ser rei de Ketu. Segundo as lendas renasceu várias vezes e suas histórias revelam ser filho de Orunmilá ou de Oxum, dependendo do momento em que renasce.
Os símbolos de Exu remetem ao seu caráter de amante da liberdade, do prazer, do poder, da riqueza, da magia e da força.

O ogo, por exemplo, é um bastão de forma fálica que pode transportá-lo a qualquer lugar, a qualquer momento. O tridente, símbolo que adquiriu no Brasil por herança do sincretismo, revela a proximidade de Exu com os homens, de não ser nem totalmente bom nem totalmente mau. No entanto, o símbolo que melhor sintetiza o caráter de Exu é o pênis. É comum, na África, que ele seja representado por um falo ereto de tamanho descomunal ou às vezes por uma vagina. Os órgãos genitais remetem ao poder que Exu exerce sobre a atividade sexual, não apenas para a procriação, mas também pelo prazer. O tamanho descomunal é para chocar a decência, a moral, pois Exu é desprovido de vergonha, gosta de ser ousado e atrevido e sobretudo tem aversão à hipocrisia.

Exu está a todo tempo em todos os lugares, é uma energia universal que está em todos os seres, em todos os momentos, em todas as coisas, é uma força extremamente intensa e ativa. É a força vital chamada axé, que trabalha incansavelmente para manter a coesão do universo. É por isto que é inaceitável dizer que Exu é uma força maligna.

Exu é o dono de todas as coisas quentes e vivas a começar pelo fogo, passando pelo sangue, pelo azeite de dendê, pela pimenta, até as bebidas alcoólicas.
Um ritual comum nos terreiros, e erroneamente interpretado, é chamado de “despachar Exu”. Aqui despachar não tem o sentido de afastar, mas sim atender, agradar a Exu para que zele pela ordem e pela segurança do ritual, para que tudo transcorra bem. Exu é o único a ser o primeiro. Relacionar-se bem com ele é saber trabalhar dentro de nós a sua força. Feliz daquele que se relaciona bem com Exu, que é capaz de fazer uma pessoa enriquecer.

Exu, princípio de todas as coisas
Senhor do poder da transformação
Orixá dos caminhos cruzados
Dos encontros, dos desencontros
Deus do prazer, da festa, da alegria
Do sexo, do amor
Exu, tu que da vida és a vida
Venha até nós e nos ensine a viver
Viver bem é cultuar Exu
Cultuar Exu é exaltar o homem
Exaltar a terra, o fogo
É cultuar o princípio da criação
A força da vida é o axé de Exu

 

Exu faz o erro virar acerto e o acerto virar erro

Quando sentado, sua cabeça bate no teto
De pé, não atinge sequer a altura do fogareiro.

Exu transporta num peneira,
O azeite de dendê que comprou no mercado
E o azeite não escorre dessa estranha vasilha

Matou um pássaro ontem
Com a pedra que atirou hoje

Quando zangado
Pisa na pedra e ela sangra.

 

Agbó é forte, firme, maciço
Dá na aiabá com uma clava
Surra de chicote a mulher do rei
Deixa o chorão chorar
Vê gente brigando e não aparta

 

Exu
É aquele, quando vocês se levantam, ao qual é preciso fazer apelo
Para que lhes providencie o alimento.
Exu
É aquele, quando vocês se levantam, ao qual é preciso fazer apelo
Para que lhes providencie a bebida
Exu
É aquele que guiou todos os orixás de retorno à Terra
Eis como Exu ganhou a soberania daquele tempo, até agora
Não existe ninguém que coma ou esteja instalado com realeza
Sem que haja recorrido a Exu primeiro.
Então as pessoas disseram: Demos a Exu o que lhe é de direito
Para não causar seu descontentamento
De maneira que o que desejamos fazer, chegue a bom termo
Então Exu tornou-se naquele que vai à frente de todas as pessoas da Terra

 

Azeite de dendê torna calmo o Dono do Mercado
Ah! O dendê acalma o Dono do Mercado. Ah! O dendê.

 

Exu, erro que acertou minha vida
Vida incerta era a certeza que tinha
Que caminho? Quantos caminhos!
Mas por onde seguia a encruzilhada do meu destino?
Acordei e saudei Exu,
Então, conheci o melhor da vida
Exu, colocou-se a meu lado
E passei a ganhar
Mesmo quando achava que estava perdendo.

Laroié!!!

Outros Orixás